(500 dias com ela)
Eu quero
falar sobre a Summer Finn, uma das personagens mais mal-interpretadas da
história do cinema. Em 2019 fez dez anos que o filme 500 dias com ela foi lançado, mas uma década parece ainda não ter
sido o suficiente para convencer algumas pessoas de que Summer não é uma vadia.
O narrador onisciente
avisa desde o começo: a história prestes a invadir a tela não é de amor. De
cara, ele apresenta Tom, o rapaz que acha que só será feliz quando encontrar o
verdadeiro amor. Em seguida, conhecemos Summer, que, segundo o próprio
narrador, não pensa da mesma forma que ele. Já no dia 1 (do total de 500 dias),
o mocinho se apaixona à primeira vista pela mocinha. Um pulo pro dia 290 mostra
pra gente que deu ruim e eles terminaram.
Vale ressaltar que tudo é
mostrado do ponto de vista de Tom, inclusive as intervenções do narrador.
Talvez esse seja o principal ingrediente responsável pelo gostinho de maldade
que a Summer deixou em tanta gente.
Ainda no início, já dá
pra notar que o protagonista segue um padrão. Ele se apaixona perdidamente,
atribuindo expectativas muito altas ao seu interesse amoroso e ficando frustrado
quando a imagem que ele tinha do relacionamento se desfaz aos poucos. Summer
diz aos quatro ventos como se sente, mas ele prefere ignorar e acreditar nas
verdades que ele criou em sua cabeça.
Enquanto ele tenta dar
sinais e indiretas, Summer é sempre a sincerona convicta. Ela acha que o amor é
uma fantasia, pois já teve relacionamentos e nunca sentiu isso por ninguém, diz
que não se sente à vontade sendo namorada de ninguém e quer deixar as coisas
sérias pra mais tarde.
Ainda assim, Summer
enxerga algo em Tom. Ela o acha interessante e divertido e quer algo casual com
ele, deixando isso claro desde sempre. Ela colocou as cartas na mesa e ele
aceitou jogar de acordo com as regras dela.
O problema é que Tom
entrou nessa já pensando que em algum momento no meio do caminho ela ia mudar
de ideia. E dá pra ver que a Summer realmente tentou dar a ele o que ele
queria. A cena em que os dois conversam deitados na cama dela e ela revela que
nunca havia contado aquelas coisas pra ninguém são prova de que Tom não era uma
pessoa qualquer. Ele era, sim, importante pra ela e fez desmoronar a parede por
trás da qual ela se escondia.
A verdade é que Tom foi
crucial para a transformação que Summer vivenciou. Após o término, ela conheceu
o amor e acabou casando com outra pessoa. Se Tom não tivesse aparecido antes,
nada disso seria possível. A questão é que ele sempre foi a jornada, não o
destino. O fato de você ser legal, uma boa pessoa, estar apaixonado por alguém
e ter gostos em comum com ela não são garantia nenhuma de que o sentimento será
correspondido.
O amor pede algo mais,
aquela coisa subjetiva que ninguém sabe explicar. Sabe aquela dificuldade que a
gente sente em explicar os motivos de ter se apaixonado por alguém? É porque
você não se apaixonou por aquela pessoa porque ela deu flores pra você, porque
sabe beijar bem ou porque gosta de Star Wars. Você já encontrou outras pessoas
assim antes e não se apaixonou por elas. O amor tem algo de inexplicável, e foi
isso que Tom não entendeu.
Quando Tom vai em um encontro com outra mulher,
eles acabam falando de tudo que aconteceu entre ele e Summer, e a moça
questiona quando ele fala que ela não tem coração. É o próprio Tom quem
confirma: Summer nunca o traiu, nunca se aproveitou dele de forma alguma e
sempre foi sincera sobre como se sentia. Parece que Summer nunca foi mesmo uma
vadia, hein?
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